segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Política Íntima

Em um primeiro contato com a palavra política, descobrimos que ao analisar todos os seus significados, não existe ser humano que não a pratique, bem ou mal. Vejamos. Política: “Habilidade no trato das relações humanas”.

Relacionar-se é fazer política e o relacionar-se se inicia com uma interação muito delicada, uma vertente/ verve filosófica que pode estar carregada de clichês, mas não de uma magnânima verdade, a verdade do “Conhece-te a ti mesmo”. E todos agradecem a Sócrates que não nos deixou livros publicados, mas algumas boas verdades.

Como esperar que possamos pular do significado abrangente da palavra política (habilidade no trato das relações humanas) e adentrar ao significado mais aplicável ao contexto social: “A arte de bem governar os povos”, sem entrarmos a fundo na análise mais hermética do nosso próprio eu?

Vejamos a qualidade dos espelhos que nos cercam dentro de um planeta comum cheio de civilizações tão díspares. Enquanto no Brasil livrar-se impune de uma suspeita ou uma acusação de corrupção é algo tão comum quanto comprar meia dúzia de pães fresquinhos na padaria da esquina, no Japão tal fato é motivo bastante para a prática do suicídio. Aos mais moderados um pedido de afastamento pela vergonha já é o bastante.

Dois pólos opostos. Espelhos diferentes e aplicações diferentes da observação do filósofo. Alguns podem conviver perfeitamente com a verdade sem que a consciência dos próprios atos tenha o peso da bigorna mais pesada sobre a nuca mantendo os olhos cabisbaixos e o semblante soturno. É o que temos por aqui, em nossas terras, em nossa pátria.

Nossos representantes políticos não praticam ou não compartilham da base principal do princípio da política: a política íntima. Aquela que acende à luz da consciência. A política que conduz os interesses do homem público, cujo dever é zelar pelos desejos e necessidades do povo, a um rumo crescente de desapego e de trabalho pelo bem comum.

Nossos representantes políticos convivem bem com a verdade. É bem sabido que ela não nos interessa e impede o país de crescer. A nossa verdade atual é a corrupção e a baixa política. A chamada politicagem. A política estreita. Homens públicos que não praticam política íntima. Que por algum motivo não procuram pensar o significado de serem o que são para muitos milhões de pessoas que juntas, no exercício da democracia, estão arregimentadas como o que chamamos “o povo”.

Não nos iludamos. A política íntima não é responsabilidade apenas de homens públicos. É responsabilidade da nação humana. A sua isenção, a sua incúria alimenta o mundo em que vivemos e o jeito que vivemos. Nossa sociedade é o espelho de nossa política íntima. Moribunda?


Não é possível isentar-se de um pouco de pessimismo quanto à saúde da política íntima da nação. Mas é um pessimismo sadio, até mentiroso, pois a prática da política íntima só depende da vontade. E vontade não é contingência climática ou solstício de inverno. A vontade é prerrogativa do nosso próprio eu.